quarta-feira, 11 de setembro de 2013

TEXTOS PARA LER E TRABALHAR NA DISCIPLINA DE ENSINO RELIGIOSO



O Brasil e seus grandes problemas sociais

Publicado em: 24/04/2011 - 17:04:00
Aimagem do excluído socialmente



Ainda que nos últimos anos o Brasil tenha conseguido grandes avanços na área social, continua com muitos problemas afetando, de forma desagradável, a vida dos brasileiros e os mais preocupantes, são: desemprego, violência e criminalidade, poluição, saúde, educação, desigualdade social, habitação, entre tantos outros.
Mesmo com o aumento da geração de empregos nos últimos anos, produzidos pelo crescimento da economia, podemos ainda encontrar um percentual muito elevado de brasileiros desempregados. O crescimento da nossa economia não foi o suficiente para produzir os empregos necessários ao País. A carência de uma formação educacional adequada e de profissionais qualificados perturba a vida dos desempregados. Apesar de não terem seus direitos trabalhistas assegurados, uma grande fatia do universo de desempregados, está optando pela economia informal.
Por outro lado as grandes cidades estão sendo acometidas pelo crescimento absurdo da violência. O cotidiano da população brasileira passou a ter como presença assegurada, cada vez mais, diversos tipos de crimes, alguns, até com requintes de crueldades. As injustiças sociais aliadas à falta de rigor no cumprimento da lei exemplificam o alto índice da criminalidade em nosso País.
Os problemas ambientais, por sua vez, também não ficam atrás. A poluição do ar - principalmente nas grandes cidades - que recebe toneladas de gases poluentes, resultado da queima de combustíveis derivados de petróleo, afeta a saúde das pessoas, principalmente dos jovens e idosos.
Os rios, que transportam em seu leito uma gama insuportável de lixo domestico e industrial, também transportam doenças e afeta o ecossistema.
Atualmente as pessoas que possuem uma condição financeira melhor, procuram um plano de saúde privado, pois a saúde publica está sucateada, negligenciada e ate diria que se encontra na UTI do descaso. Hospitais públicos desaparelhados e superlotados, faltando medicamentos, equipamentos sem condições de uso, funcionários em greve, prédios mal conservados... Esta situação caótica afeta, de forma cruel, a população mais carente.
Costuma-se dizer que o maior problema do Brasil não é o financeiro e nem a corrupção – apesar dela também ser um dos cânceres deste País – é a educação – ou a carência dela. Segundo os institutos de pesquisas, em torno de quase 85% dos brasileiros são analfabetos ou semi-analfabetos, sendo que, 16,30 milhões são totalmente analfabetos, incapazes de ler ou escrever pelo menos um bilhete simples; 18,5% dos adolescentes entre as idades de 15 a 17 anos, não freqüentam escola.
Segundo a “Câmara Brasileira de Livros”, a cada ano são produzidos no Brasil, em média, entre 300 e 320 milhões de livros, mesmo assim, cerca de 23% da população - algo em torno de 40 milhões de pessoas - nunca leram um livro; 10% dos que já leram, não passaram do primeiro capitulo; do restante, poucos chegaram ao final da leitura. Esse índice é alarmante e assustador.
É preciso que atitudes, urgentes, sejam tomadas com relação à recuperação não só da estrutura física das escolas, como também, na qualidade do ensino, através da capacitação dos professores e federalização dos seus salários, elaborando um projeto de ensino com tempo integral do aluno na escola, desenvolvendo atividades educativas paralelas ao seu turno de estudo normal, com um programa de assistência alimentar adequado para o desenvolvimento físico e mental dos cidadãos, que terão a responsabilidade de gerir os interesses e o futuro deste País.
No Brasil - o País das desigualdades sociais - a má distribuição de renda causa um grande contraste. Uma pequena parcela da população é muito rica e contrastando com ela, uma grande fatia da população vive entre a pobreza e a miséria.
O Brasil ainda é um País muito injusto, mesmo com a distribuição de renda tendo melhorado, em função dos programas sociais.
A desigualdade social brasileira é uma das maiores do mundo, tornando jovens de baixa renda vulneráveis, pois a exclusão social os torna, cada vez mais, supérfluos e incapazes de terem uma vida digna.
As autoridades são os principais responsáveis por esse processo de desigualdade que provoca exclusão e gera violência. É necessário que os gestores do País planejem uma vida mais digna, com oportunidades de conhecimento para pessoas com baixa renda, dando-lhe a chance de trabalhar e ter o seu sustento garantido.
No âmbito da moradia o déficit habitacional é muito grande no Brasil. Favorecido pelo crescimento acelerado dos habitantes da zona urbana, existe milhões de famílias que não possuem a mínima condição habitacional adequada.
O surgimento de grandes favelas e cortiços tomou conta, não só da periferia das grandes cidades, como, em algumas capitais, até dos bairros nobres.
Tornou comum habitar sob viadutos e pontes, marquises e até em outras partes da cidade, onde passam grandes dificuldades.


Fonte: Alberto Peixoto


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Escola integrada à comunidade


REVISTA EDUCAÇÃO - EDIÇÃO 122
Escola integrada à comunidade
Ações sociais promovidas por instituições de ensino criam valor para a comunidade e dão forma ao conceito de cidadania entre os alunos
Ricardo Marques

Em Itarema, cidade do litoral cearense, o que começou como um simples trabalho de apoio a estudantes que prestam vestibular acabou trazendo para a cidade a extensão de uma universidade estadual. No outro extremo do país, na região missioneira do Rio Grande do Sul, uma escola municipal convenceu a prefeitura a aperfeiçoar o sistema de recolhimento de lixo, alterou os hábitos da população e engajou-se numa campanha de combate a um incipiente surto de dengue. No interior do Paraná, alunos de uma escola de ensino fundamental começaram a visitar abrigos de idosos e crianças e, agora, iniciam contatos com uma tribo indígena que precisa, literalmente, de tudo. Na zona sul de São Paulo, numa área de alto índice de criminalidade e baixo IDH, uma escola profissionalizante gratuita, sem nenhum tipo de ajuda oficial, há sete anos vem transformando alunos em professores e criando oportunidades para que outros adolescentes repitam essa trajetória.
Em lugares e situações tão diferentes, todas essas iniciativas têm uma origem comum: escolas que decidiram somar à educação convencional a decisão de assumir um papel ativo nas comunidades em que atuam: formar alunos com consciência de cidadania e responsabilidade social e multiplicar os efeitos das ações empreendidas. Ainda há muito a fazer, mas o balanço dos avanços já registrados é surpreendente, considerando que o trabalho costuma acontecer sem muito barulho, com reduzido registro nos meios de comunicação.
Para citar apenas um indicador, existem hoje no Brasil mais de 18 mil estabelecimentos de ensino básico certificados com o Selo Escola Solidária, que identifica aqueles que realizam ações sociais relevantes, capazes de ultrapassar o mero assistencialismo filantrópico. Há dois anos, havia 12 mil Escolas Solidárias, o que significa um crescimento de 50% no período. O selo foi criado pelo Instituto Faça Parte, entidade dedicada à consolidação da cultura do voluntariado na área educacional, com apoio da Unesco, do Ministério da Educação e do Conselho Nacional de Secretários da Educação (Consed).
 
"O Selo Escola Solidária destaca iniciativas que estimulam a vivência da cidadania e da solidariedade, por meio de projetos sociais e de intervenção na realidade, imbricados na proposta pedagógica, com cunho formativo e em harmonia com a principal função da escola, que é promover a aprendizagem", explica Kátia Gonçalves Mori, coordenadora do Instituto Faça Parte. O selo surgiu em 2003, e desde então multiplicou-se o número de escolas certificadas. "Agora, nosso objetivo não é mais a expansão numérica, e sim um avanço na qualidade das ações realizadas", salienta Kátia.
As estatísticas ascendentes do Instituto representam a evidência de que a escola, como matriz de cidadania, é capaz de sair dos limites de seus muros e promover ações que, concretamente, resultam em benefícios sociais. Na maioria das vezes, muito mais do que verbas, recursos ou orçamento, o que faz a diferença é iniciativa e disposição para inventar e sair da rotina de cumprir o currículo e os compromissos do ano letivo.
Alguns dos projetos das escolas que ostentam o selo são criativos, originais, autofinanciados e, sobretudo, focados nas carências locais. Abrangem um amplo espectro de atividades, do atendimento direto a segmentos historicamente abandonados, como idosos e crianças, até a ênfase na própria educação, com enfoque extracurricular. 
Cidade universitária
Um exemplo é a Escola Estadual de Ensino Médio Luzia Araújo Barros, de Itarema (CE), cujos alunos que pretendiam ingressar numa faculdade, até cinco anos atrás, tinham de procurar outras cidades. Com 33 mil habitantes, Itarema tem cerca de 50 escolas municipais de ensino fundamental e apenas uma estadual, de ensino médio, a Luzia Araújo Barros, que, em 1998, decidiu criar um cursinho gratuito, informal, com professores voluntários, para os alunos e interessados em geral. 
Não é difícil imaginar o cenário: uma cidadezinha à beira-mar, a 220 km de Fortaleza, natureza belíssima, mas sem escolas de ensino superior e fora dos roteiros turísticos. O estudante terminava o ensino médio e não tinha muita escolha: ia morar fora, ou resignava-se a parar de estudar e a arranjar alguma coisa por ali mesmo.
A iniciativa dos gestores da escola quebrou esse círculo vicioso. "No começo, a intenção era só abrir um curso preparatório para os alunos que sonhavam em fazer faculdade, principalmente os mais carentes. Mas o trabalho cresceu e, em pouco tempo, criou-se a oportunidade para a abertura, aqui em Itarema, de cursos da Universidade Estadual Vale do Acaraú, cuja sede fica em Sobral, a 120 km de Itarema", conta o diretor da escola, o professor José Ivaldo Bleasby Freires.
Atualmente, funcionam na escola estadual cursos de letras, biologia, história e matemática, todos com licenciatura plena. "Alguns de nossos ex-alunos agora são professores da universidade", explica José Ivaldo. "Criou-se uma perspectiva mais ampla para a população, com a possibilidade de ingresso numa faculdade local, o que melhorou o nível de toda a comunidade. Itarema já está acima da média de escolarização do Estado, erradicou quase totalmente o analfabetismo, e vai ficar cada vez melhor."
Sem prédios, sem bancos, sem quase nada
Um trabalho parecido se realiza num conturbado distrito no extremo sul da capital de São Paulo, onde se localiza o Centro Educacional e Assistencial de Pedreira (Ceap), que possui 488 alunos e 135 colaboradores, dos quais 51 são funcionários contratados. Não existem prédios na redondeza e quase nenhum serviço público. Do Ceap à agência do correio ou ao banco mais próximo é preciso andar meia hora de carro. A escola fica no meio de um conjunto de favelas conhecidas por nomes enganosos: Jardim Selma, Jardim Itapurá, Jardim Natari e outros jardins inóspitos. Atende a uma área que, grosso modo, pode ser circunscrita num perímetro de cinco quilômetros de diâmetro, no qual, segundo a subprefeitura de Santo Amaro, vivem 1,2 milhão de pessoas, população maior do que a da maioria das capitais brasileiras e que cresce 6% ao ano, mais do que a média do país.
Inicialmente, o Ceap criou um cursinho para os alunos, o Vestibular Extensivo Pedreira, ou VEP, com excelentes resultados. Em 2000, os dirigentes da escola perceberam a necessidade de apoiar também os jovens que queriam ingressar no próprio Ceap, a única escola profissiona-lizante na região, como explica o professor Jod Tori, que começou como voluntário em 1994 e foi contratado, com salário, em 2003: "Por aqui há pouca oferta de educação, por isso o Ceap é muito procurado. A escola oferece cursos técnicos de eletricidade residencial e industrial, informática aplicada, auxiliar de informática, administração, telemática e telecomunicações, para jovens de 10 a 18 anos, e a relação candidato-vaga é de dez para uma. Por isso, há um 'vestibulinho', mas a base do aprendizado da maioria é muito deficiente".
O novo curso foi chamado de "Vepinho", com duração de um ano e aulas aos sábados. Atualmente, atende a cerca de 200 alunos de 9 a 13 anos. Todos os professores são alunos ou ex-alunos do CAD, alguns formados em Letras pela USP.
"O garoto que se forma aqui consegue emprego no máximo em um mês", assegura Tori. "Quando isso acontece, ele dobra a renda da família. Além disso, 80% dos nossos ex-alunos fizeram ou estão fazendo faculdade, 30% deles em universidades públicas. Então, os efeitos se estendem para a família e para a comunidade, na forma de inclusão social. Eles só precisam de uma oportunidade", acrescenta.
Do lixo à dengue

O Ceap, segundo Kátia Mori, insere-se com perfeição no modelo de escola que o Instituto Faça Parte procura destacar neste ano. "O diferencial que buscamos agora é o bom nível das ações, para qualificar as escolas mais democráticas, que promovem ações sistematizadas, com proposta consolidada no projeto pedagógico e com uma integração mais forte com a família", explica.
Kátia lembra que a escola é, por excelência, um espaço de responsabilidade social e de cidadania: "Queremos identificar aquelas que, além de oferecer um bom aprendizado formal, também estejam preocupadas com a educação para a vida, a fim de intervir e melhorar as condições sociais".
Foi o que aconteceu na Escola Municipal São Paulo, da cidade gaúcha de Entre-Ijuís, com 10 mil habitantes e a 450 km de Porto Alegre, quase na fronteira com a Argentina e o Uruguai. Com 182 alunos de educação infantil e ensino fundamental, a escola iniciou em 2001 um trabalho de preservação do meio ambiente, que resultou numa ação para a redução da quantidade de lixo na beira das estradas, cercados e valetas da região.
Com a cooperação dos órgãos públicos, conseguiu que a prefeitura recolhesse semanalmente o lixo seco. Ao mesmo tempo, os alunos começaram a distribuir panfletos e promover palestras, caminhadas e gincanas ecológicas. Em 2005, criou a Cooperativa de Defensores do Meio Ambiente, formada por 30 alunos, responsáveis pelo recolhimento e pelo encaminhamento do lixo reciclável.
"Além do recolhimento semanal do lixo, pela prefeitura, conseguimos conscientizar a população a respeito das questões ambientais. Houve uma mudança de mentalidade, e hoje 90% dos moradores participam do nosso trabalho", diz a professora Regina Aparecida Machado de Souza, diretora da escola gaúcha.
O projeto valeu ao estabelecimento o segundo lugar no Prêmio Escola Solidária de 2006, um estímulo adicional para a promoção de outras ações. "Na semana passada, surgiram quatro notificações de casos de dengue no município, e já saímos em caminhada para o recolhimento do lixo e de objetos que facilitam a proliferação do mosquito", destaca Regina.
O trabalho começa em classe, com a abordagem interdisciplinar da questão ambiental, do lixo e dos recursos naturais renováveis: "Depois, vêm as ações fora da escola, envolvendo as famílias e a comunidade ".
Visita à aldeia
Esse envolvimento é fundamental em qualquer projeto desse âmbito, diz Kátia Mori, do Faça Parte: "Trata-se de fortalecer o capital social, que está muito fragilizado. Hoje, as pessoas não confiam umas nas outras, como resultado da violência e da cultura de levar vantagem. A escola deve assumir o papel de formadora da sociedade, da cidadania mais responsável, exercida na diversidade, na pluralidade e na solidariedade".

Solidariedade e cidadania são o tema do projeto desenvolvido na Escola Municipal Criança Feliz, de Marechal Cândido Rondon (PR), cuja maior parte da população, de 50 mil habitantes, descende de alemães. A diretora Alice Silvana Grutzmann Selke explica: "O trabalho começa na sala de aula, com o estudo dos temas relacionados à cidadania: direitos e deveres, ética, atitudes, valores e formas de participar dos problemas da comunidade. Em seguida, propõe-se aos alunos a atividade prática".

Nessa etapa, os estudantes se dividem em grupos e visitam entidades do município, como a Casa Lar e o Asilo de Idosos. As observações dos grupos são discutidas em classe, e então os alunos do 1º ao 5º ano, os professores e os funcionários organizam campanhas para arrecadar alimentos e roupas para serem doados. Ao entregá-los, os alunos promovem apresentações de música, teatro e dança para quem está nas entidades.
Com 487 alunos, da educação infantil ao 5º ano do fundamental, a escola já ampliou o projeto inicial. "Em junho, visitaremos uma aldeia indígena carente, em São Miguel do Iguaçu, para tentar ajudar no que for possível", diz Alice. A partir daí, a situação dos índios brasileiros passa a ser estudada pelos alunos sob uma nova ótica, a da experiência.
"O mais impressionante é perceber como os alunos se envolvem e se emocionam. São crianças de 9, 10 anos que vão às outras classes para explicar o projeto aos colegas, escrevem bilhetes para os pais, fazem cartazes e cuidam da divulgação das campanhas. Pensamos em fazer alguma coisa, e daí surgem outras idéias, que dão nova dimensão ao trabalho. Muda a atitude dos alunos, das famílias e da própria comunidade", acrescenta a diretora.

 

 

 

 

 

Escola em tempo de Comunicação


REVISTA EDUCAÇÃO - EDIÇÃO 123
Escola em tempo de Comunicação
Meios e processos comunicacionais são cada vez mais usados como forma de proporcionar ao aluno a expressão de sua subjetividade e de, supostamente, tornar o ensino mais atraente; função crítica da escola em relação à mídia é consensual.
Cassiano José, colaborou: Rubem Barros

Por volta das 20h do dia 30 de outubro de 1938, a Columbia Broadcasting System começou a gerar, em Nova York, um inusitado programa de rádio para suas emissoras associadas. No total, calcula-se que cerca de 6 milhões de pessoas tenham ouvido a emissão, um marco na história do rádio, então um veículo com menos de duas décadas de presença pública. Essa estrondosa repercussão, no entanto, foi resultado do pânico coletivo a que foram induzidos os americanos pelo extremo realismo da adaptação concebida pelo jovem Orson Welles para a Guerra dos Mundos, de H.G.Wells. Como muitos ouvintes pegaram a peça já pela metade, acreditaram piamente que a Terra estava sendo tomada por marcianos.
Desse dia em diante, se havia dúvida acerca do poder de influência do rádio e dos meios de comunicação de massa em geral, foi dissipada. Os regimes de exceção da época, aliás, já tinham percebido isso havia tempos, utilizando-os para insuflar seus adeptos ou para promover suas idéias de educação. No Brasil, o pioneiro Roquette-Pinto defendia, desde os anos 20, o uso educativo do rádio. A partir dos anos 60-70, com a popularização da televisão, os possíveis grandes aliados tornaram-se um temor para a escola: o que fazer com esses concorrentes, especialmente a TV, que seduzem os estudantes com imagens e sons e os desviam da árdua construção do mundo letrado, constitutiva do ideário iluminista?
Entrados no século 21, vivemos outros tempos: praticamente já não se questiona se o mundo da comunicação deve confluir para a educação, mas como estabelecer o diálogo entre um e outro. No ano passado, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) patrocinou um estudo, o primeiro do gênero já realizado no Brasil, com o intuito de descobrir quais os diferenciais de uma escola pública de qualidade em relação à média das instituições. Para isso, analisou, durante três meses, o trabalho de 33 escolas que se destacaram na Prova Brasil, avaliação realizada em 2005 pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), do Ministério da Educação, com cerca de 3,3 milhões de alunos do ensino fundamental em mais de 40 mil escolas de 5.398 municípios brasileiros. Constatou que, entre outras características em comum, as 33 tinham modelos democráticos de gestão escolar e ofereciam a seus alunos a oportunidade de participar de projetos especiais, fora da grade curricular. O documento de apresentação do trabalho (Aprova Brasil - O Direito de Aprender) cita algumas dessas experiências, como o jornal mural do Colégio Estadual Horácio de Matos, em Mucugê, na Bahia, que "certamente reforça a capacidade de expressão escrita dos adolescentes", e a rádio-escola do Centro de Ensino 03, em Guará, no Distrito Federal.

O resultado veio como uma bênção para aqueles que há anos advogam a necessidade de o trabalho em ambiente escolar com mídias diversas tornar-se política pública, consagrando um trabalho que começou na década de 70, no âmbito das comunidades eclesiais de base da Igreja Católica, ganhou espaço no meio acadêmico nos anos 80, gerou inúmeros projetos de ONGs nos 90, e começa a virar política de governo.
A carreira de Ismar de Oliveira Soares, coordenador do Núcleo de Comunicação e Educação (NCE) da Escola de Comunicações e Artes da USP reflete essa trajetória. Vindo dos movimentos sociais da Igreja, tornou-se uma referência entre os estudiosos de comunicação e educação do Brasil e da América Latina. Suas pesquisas levaram ao desenvolvimento de projetos do NCE, como o Educom.Radio, estendido em 2004 à rede municipal de ensino de São Paulo por meio de um projeto de lei. Por sinal, a capital paulista aprovou lei que determina que secretarias, entre elas a de educação, incluam projetos de educo-municação em seu planejamento.
Em função da própria estrutura pública do ensino no país, normalmente são os municípios e Estados que, em parceria com universidades e ONGs, desenvolvem projetos do gênero. Em âmbito federal, pouco há.
Em muitos países, no entanto, a alfabetização para a mídia, mídia-educação ou educomunicação é uma preocupação nacional. Nos Estados Unidos, o Ministério da Educação tem um departamento só para os projetos de media literacy (alfabetização ou letramento para a mídia). "Na Europa e nos Estados Unidos, essa preocupação está incorporada; é política de governo, e não de partido", explica Alexandre Le Voci Sayad, secretário-executivo da Rede de Experiências em Comunicação, Educação e Participação (Rede CEP). "Não tem descontinuidade: os projetos transpassam mandatos e resistem às alternâncias no poder", diz.
A Rede CEP foi criada em 2004 da união de dez organizações com histórico de projetos no setor. Seu objetivo é promover e qualificar políticas públicas que envolvam comunicação, educação e participação dos alunos no ambiente de ensino. Os trabalhos dessas organizações foram analisados pelo sociólogo e jornalista Fernando Rossetti, em 2003 e 2004, para um estudo encomendado pelo Unicef: Mídia e Escola - Perspectivas para Políticas Públicas. Sayad entende que essas iniciativas, de diferentes partes do país, devem realmente servir de modelo para os governos: "O governo tem de se mirar no que já existe. O que a gente não quer é que se reinvente a roda, que se crie um programete, um pacote federal que obrigue o educador do Rio Grande do Sul e o do Pará a fazer o mesmo projeto; o que a gente quer é que se ceda às diferenças regionais e sejam replicadas as boas práticas locais já desenvolvidas", defende.
Na prática, muitas das ONGs que integram a Rede CEP já têm secretarias municipais e estaduais de educação como parceiras. É o caso da Comunicação e Cultura, de Fortaleza, e da Bem TV, de Niterói, por exemplo. A luta da Rede é para que o vínculo entre poder público e terceiro setor resista às mudanças de governo. Em escala federal, o objetivo é colocar a educomunicação na agenda da educação brasileira.
 
 
 
 
Mídia educadora

É consenso entre os estudiosos da relação entre comunicação e educação que a escola demorou a compreender o impacto da mídia de massa na formação da consciência do indivíduo e dos valores da sociedade. "A escola, talvez desde meados do século 20, desde o advento do rádio e da TV, vem perdendo lugar no ordenamento dos valores e significados; certas funções antes exercidas pela Igreja e pela escola pública hoje são desempenhadas pelos meios de comunicação", analisa Eugênio Bucci, jornalista e doutor em Ciências da Comunicação pela USP. O resultado desse processo é que o professor de hoje não consegue mais competir com a televisão.
O que acontece, segundo Bucci, que presidiu a Radiobrás, agência de notícias do governo federal, de janeiro de 2003 a abril de 2007, é que a mídia sempre é educativa, quer tenha a intenção de sê-lo ou não. Os empresários e profissionais de comunicação deveriam, portanto, ser mais atentos à responsabilidade que pesa sobre eles. O fato, para Bucci, é que a pedagogia televisiva forma pessoas abertas às leis do espetáculo, seja quando educa para o consumo, o sexo ou a religião. A isso a escola deveria reagir. "A escola não pode servir de ressonância para apelos de mercado, não pode abrir mão de ser um espaço autônomo", aponta.
Para José Sérgio Fonseca de Carvalho, professor do departamento de Filosofia da Educação da Faculdade de Educação da USP, é "absolutamente pertinente" que a escola desenvolva uma capacidade de leitura crítica dos meios audiovisuais, pois, especialmente com o advento da TV, passamos a viver um novo fenômeno: o de ter uma emissão centralizada, com informações geradas a partir de centros de poder, com um esvaziamento da esfera pública. Essa leitura, porém, deve ser feita sem prejuízo de sua dimensão original.
"Nossas estruturas de pensamento são solidárias a um tipo de linguagem. É importante ter uma capacidade de leitura da imagem. Agora, o distanciamento crítico em relação à linguagem imagética não vem por meio dela. A cultura escolar é, sobretudo, a cultura letrada. A imagem não é capaz de passar um conceito, pois a linguagem conceitual não é imagética", defende Carvalho.

Os baixos índices de habilidades de leitura e escrita dos estudantes latino-americanos são apontados por outro intelectual, o educador colombiano Bernardo Toro, como um dos grande empecilhos para que as escolas utilizem os processos de leitura crítica e alfabetização para a mídia.
"A compreensão e a análise crítica dos meios de comunicação de massa são dos aprendizados mais necessários para se poder participar produtivamente da sociedade presente e futura. Lograr o domínio dessas novas gramáticas tecnológicas implica primeiro dominar as competências de leitura e escrita", diz Toro. Para o colombiano, não há dilema entre escola e meios de massa. A questão é a definição de um caminho ético de desenvolvimento sustentável compartilhado, que dê sentido ao saber que temos acumulado.
Esperar que os meios de comunicação espontaneamente passem a transmitir outros valores parece não ser suficiente. Cobrar do poder público o papel de proteger a escola do impacto da mídia esbarra na dificuldade que se encontra em classificar e estabelecer limites para os conteúdos, uma vez que medidas desse tipo tendem a ser vistas como mecanismos de censura. A televisão deverá, portanto, continuar sendo o que é, mas há quem entenda que não faria tanta diferença se ela tivesse outro caráter. "Eu não quero uma TV educativa, eu quero educar meus filhos", defende Edilson Cazeloto, mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC e professor do curso de jornalismo do Mackenzie. No fim das contas, qualquer que seja a TV, pais e educadores terão sempre o desafio de não permitir que ela seja a grande formadora dos valores da sociedade. "O problema é deixar a TV grassar solta; a mídia tem um impacto negativo porque não é discutida", adverte Cazeloto. O educador precisaria assumir o papel de mediador entre a mídia e o indivíduo, levando o aluno a estabelecer uma relação crítica com os meios de comunicação, diz, corroborando Fonseca Carvalho.
 
 
 
Ser multimídia
As experiências dos que trabalham com alfabetização para a mídia demonstram que apenas o discurso do professor não basta para despertar o senso crítico do estudante. Por mais analítico e atraente que seja, ele também é impotente diante da sedução dos meios de comunicação. "A escola quer ensinar à criança como se comportar perante a mídia. Visto entre esses padrões - o da escola e o da mídia - o aluno prefere o da mídia e acaba não absorvendo a crítica que a escola quer promover. A educomunicação diz que a única solução possível é trazer a mídia para a escola, tornando-a um articulador do discurso", aponta Ismar de Oliveira Soares.

Em outras palavras, mais do que discutir mídia e interpretar os procedimentos e intenções dos veículos de comunicação, é preciso colocar o estudante no papel de protagonista, de agente do discurso. Não para que ele aprenda tecnicamente como se faz comunicação, mas para que compreenda o potencial que cada indivíduo tem de se expressar. "O importante é que o aluno aprenda a ser multimídia, e não a operar multimídia", sintetiza Cazeloto.
Isso significa que um bom trabalho de educomunicação pode ser desenvolvido mesmo com escassez de recursos e precariedade técnica. Muitos dos projetos ligados à Rede CEP e outros tantos espalhados pelo país são realmente feitos nessas condições. O governo federal, contudo, ainda tende a confundir incentivo à alfabetização para a mídia com investimento em tecnologia. Acha que é só colocar computador nas escolas, que a educação começa a acontecer.
 Esse pensamento é fruto da crença na capacidade que o surgimento de novas tecnologias tem de democratizar o acesso à informação e aos meios de se fazer comunicação. Crença que Eugênio Bucci e Edilson Cazeloto definem numa só e mesma palavra: fetiche. Segundo Bucci, o fenômeno repete-se toda vez que uma nova tecnologia se impõe à sociedade. A panacéia da vez é a internet, como já foram no passado o rádio e a televisão. Cazeloto vê nesse fascínio pela tecnologia um grande perigo. Como todas as mídias hoje em dia convergem para a plataforma digital, é como se todos os ovos estivessem sendo colocados numa cesta só. "Democracia tem a ver com pluralidade", aponta.
 
 
 
 
Olhar ao redor
Um dos princípios que norteiam o trabalho dos que promovem a educomunicação no Brasil é baseado na premissa de que toda comunicação é uma relação: fazer a escola olhar para fora de si e levar em consideração a realidade que existe ao seu redor. Não a grande realidade, distante e abstrata, mas a vizinha, concreta, do cotidiano, da comunidade local. É nesse sentido que pouco importa com que recursos a comunicação é feita, e sim que benefícios ela gera. Alexandre Le Voci Sayad entende que, se o colégio não tem recursos para produzir nada, pode desenvolver grandes projetos educativos a partir de idéias simples. "Uma escola firmar parceria com o jornal do seu bairro para produzir uma página de conteúdo, por exemplo, é algo que não envolve custo nenhum para ninguém", sugere.
Além da simplicidade, da capacidade de integrar-se com a comunidade em que está inserida em vez de aventurar-se em projetos megalomaníacos nos quais muitas vezes a tecnologia é usada à-toa, a experiência das ONGs aponta outros pontos que devem ser levados em consideração na hora de estruturar um projeto com mídia na escola. 
O mais importante deles é o interesse dos alunos. Sayad aponta que projetos impostos pela direção ou pelos professores sem consulta às vontades dos estudantes tendem a não durar mais de dois meses. Os jovens os abandonam no meio. Um caminho freqüentemente adotado e que costuma obter um bom índice de resposta é o de formar comitês conjuntos, com participação de alunos e docentes e acordos estabelecidos.
Outra boa iniciativa é permitir que nas oficinas de comunicação os alunos convivam com diferentes profissionais do setor: jornalistas, publicitários, fotógrafos, artistas gráficos. Com isso, fora o ganho cultural que a diversidade naturalmente proporciona, o jovem sente-se mais motivado, pois se percebe envolvido numa atividade profissional de verdade e não num mero trabalho escolar.
Por outro lado, é preciso que diretores e professores não tenham ilusões em relação à educomunicação. Ela mexe com aquilo que o espanhol Jesús Martín-Barbero, um dos mais conceituados teóricos da comunicação, chama de "ecossistema comunicativo", de modo que as relações dentro do ambiente escolar sofrem modificações. O interesse pelo trabalho com mídia pode, por exemplo, vir acompanhado de um crescente desinteresse pelas disciplinas da grade curricular ou pela maneira como são ensinadas. Ao expressar-se pela mídia, o jovem torna-se mais crítico e percebe que tem o poder de se fazer ouvir no colégio. Os professores precisam estar preparados para responder com diálogo e um ensino mais envolvente.
Também não adianta exigir desse tipo de trabalho aquilo que ele sozinho não pode fazer. "Os projetos em educomunicação não salvam a educação brasileira. A escola tem de mudar em vários aspectos simultaneamente", diz Sayad. A participação dos alunos em produção de mídia é somente uma parte disso.
SolBatt agradece sua visita!

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