O Brasil e seus grandes problemas sociais |
Publicado em: 24/04/2011 - 17:04:00
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Aimagem do excluído
socialmente
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Ainda
que nos últimos anos o Brasil tenha conseguido grandes avanços na área
social, continua com muitos problemas afetando, de forma desagradável, a vida
dos brasileiros e os mais preocupantes, são: desemprego, violência e
criminalidade, poluição, saúde, educação, desigualdade social, habitação,
entre tantos outros.
Mesmo
com o aumento da geração de empregos nos últimos anos, produzidos pelo
crescimento da economia, podemos ainda encontrar um percentual muito elevado
de brasileiros desempregados. O crescimento da nossa economia não foi o
suficiente para produzir os empregos necessários ao País. A carência de uma
formação educacional adequada e de profissionais qualificados perturba a vida
dos desempregados. Apesar de não terem seus direitos trabalhistas
assegurados, uma grande fatia do universo de desempregados, está optando pela
economia informal.
Por
outro lado as grandes cidades estão sendo acometidas pelo crescimento absurdo
da violência. O cotidiano da população brasileira passou a ter como presença
assegurada, cada vez mais, diversos tipos de crimes, alguns, até com
requintes de crueldades. As injustiças sociais aliadas à falta de rigor no
cumprimento da lei exemplificam o alto índice da criminalidade em nosso País.
Os
problemas ambientais, por sua vez, também não ficam atrás. A poluição do ar -
principalmente nas grandes cidades - que recebe toneladas de gases poluentes,
resultado da queima de combustíveis derivados de petróleo, afeta a saúde das
pessoas, principalmente dos jovens e idosos.
Os
rios, que transportam em seu leito uma gama insuportável de lixo domestico e
industrial, também transportam doenças e afeta o ecossistema.
Atualmente
as pessoas que possuem uma condição financeira melhor, procuram um plano de
saúde privado, pois a saúde publica está sucateada, negligenciada e ate diria
que se encontra na UTI do descaso. Hospitais públicos desaparelhados e
superlotados, faltando medicamentos, equipamentos sem condições de uso,
funcionários em greve, prédios mal conservados... Esta situação caótica
afeta, de forma cruel, a população mais carente.
Costuma-se
dizer que o maior problema do Brasil não é o financeiro e nem a corrupção –
apesar dela também ser um dos cânceres deste País – é a educação – ou a
carência dela. Segundo os institutos de pesquisas, em torno de quase 85% dos
brasileiros são analfabetos ou semi-analfabetos, sendo que, 16,30 milhões são
totalmente analfabetos, incapazes de ler ou escrever pelo menos um bilhete
simples; 18,5% dos adolescentes entre as idades de 15 a 17 anos, não
freqüentam escola.
Segundo
a “Câmara Brasileira de Livros”, a cada ano são produzidos no Brasil, em
média, entre 300 e 320 milhões de livros, mesmo assim, cerca de 23% da
população - algo em torno de 40 milhões de pessoas - nunca leram um livro;
10% dos que já leram, não passaram do primeiro capitulo; do restante, poucos
chegaram ao final da leitura. Esse índice é alarmante e assustador.
É
preciso que atitudes, urgentes, sejam tomadas com relação à recuperação não
só da estrutura física das escolas, como também, na qualidade do ensino,
através da capacitação dos professores e federalização dos seus salários,
elaborando um projeto de ensino com tempo integral do aluno na escola,
desenvolvendo atividades educativas paralelas ao seu turno de estudo normal,
com um programa de assistência alimentar adequado para o desenvolvimento
físico e mental dos cidadãos, que terão a responsabilidade de gerir os
interesses e o futuro deste País.
No
Brasil - o País das desigualdades sociais - a má distribuição de renda causa
um grande contraste. Uma pequena parcela da população é muito rica e
contrastando com ela, uma grande fatia da população vive entre a pobreza e a
miséria.
O
Brasil ainda é um País muito injusto, mesmo com a distribuição de renda tendo
melhorado, em função dos programas sociais.
A
desigualdade social brasileira é uma das maiores do mundo, tornando jovens de
baixa renda vulneráveis, pois a exclusão social os torna, cada vez mais,
supérfluos e incapazes de terem uma vida digna.
As
autoridades são os principais responsáveis por esse processo de desigualdade
que provoca exclusão e gera violência. É necessário que os gestores do País
planejem uma vida mais digna, com oportunidades de conhecimento para pessoas
com baixa renda, dando-lhe a chance de trabalhar e ter o seu sustento
garantido.
No âmbito da moradia o déficit habitacional é muito
grande no Brasil. Favorecido pelo crescimento acelerado dos habitantes da
zona urbana, existe milhões de famílias que não possuem a mínima condição
habitacional adequada.
O
surgimento de grandes favelas e cortiços tomou conta, não só da periferia das
grandes cidades, como, em algumas capitais, até dos bairros nobres.
Tornou
comum habitar sob viadutos e pontes, marquises e até em outras partes da
cidade, onde passam grandes dificuldades.
Fonte: Alberto Peixoto |
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Escola integrada à comunidade
REVISTA EDUCAÇÃO - EDIÇÃO 122
Escola integrada à comunidade
Ações sociais promovidas por instituições de ensino criam valor para a comunidade e dão forma ao conceito de cidadania entre os alunos
Ações sociais promovidas por instituições de ensino criam valor para a comunidade e dão forma ao conceito de cidadania entre os alunos
Ricardo Marques
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Em Itarema, cidade do litoral cearense, o que começou como um
simples trabalho de apoio a estudantes que prestam vestibular acabou trazendo
para a cidade a extensão de uma universidade estadual. No outro extremo do
país, na região missioneira do Rio Grande do Sul, uma escola municipal
convenceu a prefeitura a aperfeiçoar o sistema de recolhimento de lixo, alterou
os hábitos da população e engajou-se numa campanha de combate a um incipiente
surto de dengue. No interior do Paraná, alunos de uma escola de ensino
fundamental começaram a visitar abrigos de idosos e crianças e, agora, iniciam
contatos com uma tribo indígena que precisa, literalmente, de tudo. Na zona sul
de São Paulo, numa área de alto índice de criminalidade e baixo IDH, uma escola
profissionalizante gratuita, sem nenhum tipo de ajuda oficial, há sete anos vem
transformando alunos em professores e criando oportunidades para que outros
adolescentes repitam essa trajetória.
Em lugares e situações tão diferentes, todas essas iniciativas têm
uma origem comum: escolas que decidiram somar à educação convencional a decisão
de assumir um papel ativo nas comunidades em que atuam: formar alunos com
consciência de cidadania e responsabilidade social e multiplicar os efeitos das
ações empreendidas. Ainda há muito a fazer, mas o balanço dos avanços já
registrados é surpreendente, considerando que o trabalho costuma acontecer sem
muito barulho, com reduzido registro nos meios de comunicação.
Para citar apenas um indicador, existem hoje no Brasil mais de 18
mil estabelecimentos de ensino básico certificados com o Selo Escola Solidária,
que identifica aqueles que realizam ações sociais relevantes, capazes de
ultrapassar o mero assistencialismo filantrópico. Há dois anos, havia 12 mil
Escolas Solidárias, o que significa um crescimento de 50% no período. O selo
foi criado pelo Instituto Faça Parte, entidade dedicada à consolidação da
cultura do voluntariado na área educacional, com apoio da Unesco, do Ministério
da Educação e do Conselho Nacional de Secretários da Educação (Consed).
"O Selo Escola Solidária destaca iniciativas que estimulam a vivência da cidadania e da solidariedade, por meio de projetos sociais e de intervenção na realidade, imbricados na proposta pedagógica, com cunho formativo e em harmonia com a principal função da escola, que é promover a aprendizagem", explica Kátia Gonçalves Mori, coordenadora do Instituto Faça Parte. O selo surgiu em 2003, e desde então multiplicou-se o número de escolas certificadas. "Agora, nosso objetivo não é mais a expansão numérica, e sim um avanço na qualidade das ações realizadas", salienta Kátia.
"O Selo Escola Solidária destaca iniciativas que estimulam a vivência da cidadania e da solidariedade, por meio de projetos sociais e de intervenção na realidade, imbricados na proposta pedagógica, com cunho formativo e em harmonia com a principal função da escola, que é promover a aprendizagem", explica Kátia Gonçalves Mori, coordenadora do Instituto Faça Parte. O selo surgiu em 2003, e desde então multiplicou-se o número de escolas certificadas. "Agora, nosso objetivo não é mais a expansão numérica, e sim um avanço na qualidade das ações realizadas", salienta Kátia.
As estatísticas ascendentes do Instituto representam a evidência
de que a escola, como matriz de cidadania, é capaz de sair dos limites de seus
muros e promover ações que, concretamente, resultam em benefícios sociais. Na
maioria das vezes, muito mais do que verbas, recursos ou orçamento, o que faz a
diferença é iniciativa e disposição para inventar e sair da rotina de cumprir o
currículo e os compromissos do ano letivo.
Alguns dos projetos das escolas que ostentam o selo são criativos,
originais, autofinanciados e, sobretudo, focados nas carências locais. Abrangem
um amplo espectro de atividades, do atendimento direto a segmentos
historicamente abandonados, como idosos e crianças, até a ênfase na própria
educação, com enfoque extracurricular.
Cidade universitária
Um exemplo é a Escola Estadual de Ensino Médio Luzia Araújo
Barros, de Itarema (CE), cujos alunos que pretendiam ingressar numa faculdade,
até cinco anos atrás, tinham de procurar outras cidades. Com 33 mil habitantes,
Itarema tem cerca de 50 escolas municipais de ensino fundamental e apenas uma
estadual, de ensino médio, a Luzia Araújo Barros, que, em 1998, decidiu criar
um cursinho gratuito, informal, com professores voluntários, para os alunos e
interessados em geral.
Não é difícil imaginar o cenário: uma cidadezinha à beira-mar, a 220 km de Fortaleza,
natureza belíssima, mas sem escolas de ensino superior e fora dos roteiros
turísticos. O estudante terminava o ensino médio e não tinha muita escolha: ia
morar fora, ou resignava-se a parar de estudar e a arranjar alguma coisa por
ali mesmo.
A iniciativa dos gestores da escola quebrou esse círculo vicioso.
"No começo, a intenção era só abrir um curso preparatório para os alunos
que sonhavam em fazer faculdade, principalmente os mais carentes. Mas o
trabalho cresceu e, em pouco tempo, criou-se a oportunidade para a abertura, aqui
em Itarema, de cursos da Universidade Estadual Vale do Acaraú, cuja sede fica
em Sobral, a 120 km
de Itarema", conta o diretor da escola, o professor José Ivaldo
Bleasby Freires.
Atualmente, funcionam na escola estadual cursos de letras,
biologia, história e matemática, todos com licenciatura plena. "Alguns de
nossos ex-alunos agora são professores da universidade", explica
José Ivaldo. "Criou-se uma perspectiva mais ampla para a população,
com a possibilidade de ingresso numa faculdade local, o que melhorou o nível de
toda a comunidade. Itarema já está acima da média de escolarização do Estado,
erradicou quase totalmente o analfabetismo, e vai ficar cada vez melhor."
Sem prédios, sem bancos, sem quase nada
Um trabalho parecido se realiza num conturbado distrito no extremo
sul da capital de São Paulo, onde se localiza o Centro Educacional e
Assistencial de Pedreira (Ceap), que possui 488 alunos e 135 colaboradores, dos
quais 51 são funcionários contratados. Não existem prédios na redondeza e quase
nenhum serviço público. Do Ceap à agência do correio ou ao banco mais próximo é
preciso andar meia hora de carro. A escola fica no meio de um conjunto de
favelas conhecidas por nomes enganosos: Jardim Selma, Jardim Itapurá, Jardim
Natari e outros jardins inóspitos. Atende a uma área que, grosso modo, pode ser
circunscrita num perímetro de cinco quilômetros de diâmetro, no qual, segundo a
subprefeitura de Santo Amaro, vivem 1,2 milhão de pessoas, população maior do
que a da maioria das capitais brasileiras e que cresce 6% ao ano, mais do que a
média do país.
Inicialmente, o Ceap criou um cursinho para os alunos, o
Vestibular Extensivo Pedreira, ou VEP, com excelentes resultados. Em 2000, os
dirigentes da escola perceberam a necessidade de apoiar também os jovens que
queriam ingressar no próprio Ceap, a única escola profissiona-lizante na
região, como explica o professor Jod Tori, que começou como voluntário em 1994
e foi contratado, com salário, em 2003: "Por aqui há pouca oferta de
educação, por isso o Ceap é muito procurado. A escola oferece cursos técnicos
de eletricidade residencial e industrial, informática aplicada, auxiliar de
informática, administração, telemática e telecomunicações, para jovens de 10 a 18 anos, e a relação
candidato-vaga é de dez para uma. Por isso, há um 'vestibulinho', mas a base do
aprendizado da maioria é muito deficiente".
O novo curso foi chamado de "Vepinho", com duração de um
ano e aulas aos sábados. Atualmente, atende a cerca de 200 alunos de 9 a 13 anos. Todos os
professores são alunos ou ex-alunos do CAD, alguns formados em Letras pela USP.
"O garoto que se forma aqui consegue emprego no máximo em um
mês", assegura Tori. "Quando isso acontece, ele dobra a renda da
família. Além disso, 80% dos nossos ex-alunos fizeram ou estão fazendo
faculdade, 30% deles em universidades públicas. Então, os efeitos se estendem
para a família e para a comunidade, na forma de inclusão social. Eles só
precisam de uma oportunidade", acrescenta.
Do lixo à dengue
O Ceap, segundo Kátia Mori, insere-se com perfeição no modelo de
escola que o Instituto Faça Parte procura destacar neste ano. "O
diferencial que buscamos agora é o bom nível das ações, para qualificar as
escolas mais democráticas, que promovem ações sistematizadas, com proposta
consolidada no projeto pedagógico e com uma integração mais forte com a
família", explica.
Kátia lembra que a escola é, por excelência, um espaço de
responsabilidade social e de cidadania: "Queremos identificar aquelas que,
além de oferecer um bom aprendizado formal, também estejam preocupadas com a
educação para a vida, a fim de intervir e melhorar as condições sociais".
Foi o que aconteceu na Escola Municipal São Paulo, da cidade
gaúcha de Entre-Ijuís, com 10 mil habitantes e a 450 km de Porto Alegre,
quase na fronteira com a Argentina e o Uruguai. Com 182 alunos de educação
infantil e ensino fundamental, a escola iniciou em 2001 um trabalho de
preservação do meio ambiente, que resultou numa ação para a redução da
quantidade de lixo na beira das estradas, cercados e valetas da região.
Com a cooperação dos órgãos públicos, conseguiu que a prefeitura
recolhesse semanalmente o lixo seco. Ao mesmo tempo, os alunos começaram a
distribuir panfletos e promover palestras, caminhadas e gincanas
ecológicas. Em 2005, criou a Cooperativa de Defensores do Meio Ambiente,
formada por 30 alunos, responsáveis pelo recolhimento e pelo encaminhamento do
lixo reciclável.
"Além do recolhimento semanal do lixo, pela prefeitura,
conseguimos conscientizar a população a respeito das questões ambientais. Houve
uma mudança de mentalidade, e hoje 90% dos moradores participam do nosso
trabalho", diz a professora Regina Aparecida Machado de Souza, diretora da
escola gaúcha.
O projeto valeu ao estabelecimento o segundo lugar no Prêmio
Escola Solidária de 2006, um estímulo adicional para a promoção de outras
ações. "Na semana passada, surgiram quatro notificações de casos de dengue
no município, e já saímos em caminhada para o recolhimento do lixo e de objetos
que facilitam a proliferação do mosquito", destaca Regina.
O trabalho começa em classe, com a abordagem interdisciplinar da
questão ambiental, do lixo e dos recursos naturais renováveis: "Depois,
vêm as ações fora da escola, envolvendo as famílias e a comunidade ".
Visita à aldeia
Esse envolvimento é fundamental em qualquer projeto desse âmbito,
diz Kátia Mori, do Faça Parte: "Trata-se de fortalecer o capital social,
que está muito fragilizado. Hoje, as pessoas não confiam umas nas outras, como
resultado da violência e da cultura de levar vantagem. A escola deve assumir o
papel de formadora da sociedade, da cidadania mais responsável, exercida na
diversidade, na pluralidade e na solidariedade".
Solidariedade e cidadania são o tema do projeto desenvolvido na
Escola Municipal Criança Feliz, de Marechal Cândido Rondon (PR), cuja maior
parte da população, de 50 mil habitantes, descende de alemães. A diretora Alice
Silvana Grutzmann Selke explica: "O trabalho começa na sala de aula, com o
estudo dos temas relacionados à cidadania: direitos e deveres, ética, atitudes,
valores e formas de participar dos problemas da comunidade. Em seguida,
propõe-se aos alunos a atividade prática".
Nessa etapa, os estudantes se dividem em grupos e visitam entidades do município, como a Casa Lar e o Asilo de Idosos. As observações dos grupos são discutidas em classe, e então os alunos do 1º ao 5º ano, os professores e os funcionários organizam campanhas para arrecadar alimentos e roupas para serem doados. Ao entregá-los, os alunos promovem apresentações de música, teatro e dança para quem está nas entidades.
Nessa etapa, os estudantes se dividem em grupos e visitam entidades do município, como a Casa Lar e o Asilo de Idosos. As observações dos grupos são discutidas em classe, e então os alunos do 1º ao 5º ano, os professores e os funcionários organizam campanhas para arrecadar alimentos e roupas para serem doados. Ao entregá-los, os alunos promovem apresentações de música, teatro e dança para quem está nas entidades.
Com 487 alunos, da educação infantil ao 5º ano do fundamental, a
escola já ampliou o projeto inicial. "Em junho, visitaremos uma aldeia
indígena carente, em São
Miguel do Iguaçu, para tentar ajudar no que for
possível", diz Alice. A partir daí, a situação dos índios brasileiros
passa a ser estudada pelos alunos sob uma nova ótica, a da experiência.
"O mais impressionante é perceber como os alunos se envolvem
e se emocionam. São crianças de 9, 10 anos que vão às outras classes para explicar
o projeto aos colegas, escrevem bilhetes para os pais, fazem cartazes e cuidam
da divulgação das campanhas. Pensamos em fazer alguma coisa, e daí surgem
outras idéias, que dão nova dimensão ao trabalho. Muda a atitude dos alunos,
das famílias e da própria comunidade", acrescenta a diretora.
Escola em tempo de Comunicação
REVISTA EDUCAÇÃO - EDIÇÃO 123
Escola em tempo de Comunicação
Meios e processos comunicacionais são cada vez mais usados como forma de proporcionar ao aluno a expressão de sua subjetividade e de, supostamente, tornar o ensino mais atraente; função crítica da escola em relação à mídia é consensual.
Meios e processos comunicacionais são cada vez mais usados como forma de proporcionar ao aluno a expressão de sua subjetividade e de, supostamente, tornar o ensino mais atraente; função crítica da escola em relação à mídia é consensual.
Cassiano José,
colaborou: Rubem Barros
Por
volta das 20h do dia 30 de outubro de 1938, a Columbia Broadcasting System começou a
gerar, em Nova York,
um inusitado programa de rádio para suas emissoras associadas. No total,
calcula-se que cerca de 6 milhões de pessoas tenham ouvido a emissão, um marco
na história do rádio, então um veículo com menos de duas décadas de presença
pública. Essa estrondosa repercussão, no entanto, foi resultado do pânico
coletivo a que foram induzidos os americanos pelo extremo realismo da adaptação
concebida pelo jovem Orson Welles para a Guerra dos Mundos, de H.G.Wells. Como
muitos ouvintes pegaram a peça já pela metade, acreditaram piamente que a Terra
estava sendo tomada por marcianos.
Desse
dia em diante, se havia dúvida acerca do poder de influência do rádio e dos
meios de comunicação de massa em geral, foi dissipada. Os regimes de exceção da
época, aliás, já tinham percebido isso havia tempos, utilizando-os para
insuflar seus adeptos ou para promover suas idéias de educação. No Brasil, o
pioneiro Roquette-Pinto defendia, desde os anos 20, o uso educativo do rádio. A
partir dos anos 60-70, com a popularização da televisão, os possíveis grandes
aliados tornaram-se um temor para a escola: o que fazer com esses concorrentes,
especialmente a TV, que seduzem os estudantes com imagens e sons e os desviam da
árdua construção do mundo letrado, constitutiva do ideário iluminista?
Entrados
no século 21, vivemos outros tempos: praticamente já não se questiona se o
mundo da comunicação deve confluir para a educação, mas como estabelecer o
diálogo entre um e outro. No ano passado, o Fundo das Nações Unidas para a
Infância (Unicef) patrocinou um estudo, o primeiro do gênero já realizado no
Brasil, com o intuito de descobrir quais os diferenciais de uma escola pública
de qualidade em relação à média das instituições. Para isso, analisou, durante
três meses, o trabalho de 33 escolas que se destacaram na Prova Brasil,
avaliação realizada em 2005 pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira (Inep), do Ministério da Educação, com cerca de 3,3
milhões de alunos do ensino fundamental em mais de 40 mil escolas de 5.398
municípios brasileiros. Constatou que, entre outras características em comum,
as 33 tinham modelos democráticos de gestão escolar e ofereciam a seus alunos a
oportunidade de participar de projetos especiais, fora da grade curricular. O
documento de apresentação do trabalho (Aprova Brasil - O Direito de Aprender)
cita algumas dessas experiências, como o jornal mural do Colégio Estadual
Horácio de Matos, em Mucugê, na Bahia, que "certamente reforça a
capacidade de expressão escrita dos adolescentes", e a rádio-escola do
Centro de Ensino 03, em Guará, no Distrito Federal.
O resultado veio como uma bênção para aqueles que há anos advogam a necessidade de o trabalho em ambiente escolar com mídias diversas tornar-se política pública, consagrando um trabalho que começou na década de 70, no âmbito das comunidades eclesiais de base da Igreja Católica, ganhou espaço no meio acadêmico nos anos 80, gerou inúmeros projetos de ONGs nos 90, e começa a virar política de governo.
O resultado veio como uma bênção para aqueles que há anos advogam a necessidade de o trabalho em ambiente escolar com mídias diversas tornar-se política pública, consagrando um trabalho que começou na década de 70, no âmbito das comunidades eclesiais de base da Igreja Católica, ganhou espaço no meio acadêmico nos anos 80, gerou inúmeros projetos de ONGs nos 90, e começa a virar política de governo.
A
carreira de Ismar de Oliveira Soares, coordenador do Núcleo de Comunicação e
Educação (NCE) da Escola de Comunicações e Artes da USP reflete essa
trajetória. Vindo dos movimentos sociais da Igreja, tornou-se uma referência
entre os estudiosos de comunicação e educação do Brasil e da América Latina.
Suas pesquisas levaram ao desenvolvimento de projetos do NCE, como o
Educom.Radio, estendido em 2004 à rede municipal de ensino de São Paulo por
meio de um projeto de lei. Por sinal, a capital paulista aprovou lei que
determina que secretarias, entre elas a de educação, incluam projetos de
educo-municação em seu planejamento.
Em
função da própria estrutura pública do ensino no país, normalmente são os
municípios e Estados que, em parceria com universidades e ONGs, desenvolvem
projetos do gênero. Em âmbito federal, pouco há.
Em
muitos países, no entanto, a alfabetização para a mídia, mídia-educação ou
educomunicação é uma preocupação nacional. Nos Estados Unidos, o Ministério da
Educação tem um departamento só para os projetos de media literacy
(alfabetização ou letramento para a mídia). "Na Europa e nos Estados
Unidos, essa preocupação está incorporada; é política de governo, e não de
partido", explica Alexandre Le Voci Sayad, secretário-executivo da Rede de
Experiências em Comunicação, Educação e Participação (Rede CEP). "Não tem
descontinuidade: os projetos transpassam mandatos e resistem às alternâncias no
poder", diz.
A
Rede CEP foi criada em 2004 da união de dez organizações com histórico de
projetos no setor. Seu objetivo é promover e qualificar políticas públicas que
envolvam comunicação, educação e participação dos alunos no ambiente de ensino.
Os trabalhos dessas organizações foram analisados pelo sociólogo e jornalista Fernando
Rossetti, em 2003 e 2004, para um estudo encomendado pelo Unicef: Mídia e
Escola - Perspectivas para Políticas Públicas. Sayad entende que essas
iniciativas, de diferentes partes do país, devem realmente servir de modelo
para os governos: "O governo tem de se mirar no que já existe. O que a
gente não quer é que se reinvente a roda, que se crie um programete, um pacote
federal que obrigue o educador do Rio Grande do Sul e o do Pará a fazer o mesmo
projeto; o que a gente quer é que se ceda às diferenças regionais e sejam
replicadas as boas práticas locais já desenvolvidas", defende.
Na
prática, muitas das ONGs que integram a Rede CEP já têm secretarias municipais
e estaduais de educação como parceiras. É o caso da Comunicação e Cultura, de
Fortaleza, e da Bem TV, de Niterói, por exemplo. A luta da Rede é para que o
vínculo entre poder público e terceiro setor resista às mudanças de governo. Em
escala federal, o objetivo é colocar a educomunicação na agenda da educação
brasileira.
Mídia educadora
É
consenso entre os estudiosos da relação entre comunicação e educação que a
escola demorou a compreender o impacto da mídia de massa na formação da
consciência do indivíduo e dos valores da sociedade. "A escola, talvez
desde meados do século 20, desde o advento do rádio e da TV, vem perdendo lugar
no ordenamento dos valores e significados; certas funções antes exercidas pela
Igreja e pela escola pública hoje são desempenhadas pelos meios de
comunicação", analisa Eugênio Bucci, jornalista e doutor em Ciências da
Comunicação pela USP. O resultado desse processo é que o professor de hoje não
consegue mais competir com a televisão.
O
que acontece, segundo Bucci, que presidiu a Radiobrás, agência de notícias do
governo federal, de janeiro de 2003
a abril de 2007, é que a mídia sempre é educativa, quer
tenha a intenção de sê-lo ou não. Os empresários e profissionais de comunicação
deveriam, portanto, ser mais atentos à responsabilidade que pesa sobre eles. O
fato, para Bucci, é que a pedagogia televisiva forma pessoas abertas às leis do
espetáculo, seja quando educa para o consumo, o sexo ou a religião. A isso a
escola deveria reagir. "A escola não pode servir de ressonância para
apelos de mercado, não pode abrir mão de ser um espaço autônomo", aponta.
Para
José Sérgio Fonseca de Carvalho, professor do departamento de Filosofia da
Educação da Faculdade de Educação da USP, é "absolutamente
pertinente" que a escola desenvolva uma capacidade de leitura crítica dos
meios audiovisuais, pois, especialmente com o advento da TV, passamos a viver
um novo fenômeno: o de ter uma emissão centralizada, com informações geradas a
partir de centros de poder, com um esvaziamento da esfera pública. Essa
leitura, porém, deve ser feita sem prejuízo de sua dimensão original.
"Nossas
estruturas de pensamento são solidárias a um tipo de linguagem. É importante
ter uma capacidade de leitura da imagem. Agora, o distanciamento crítico em
relação à linguagem imagética não vem por meio dela. A cultura escolar é,
sobretudo, a cultura letrada. A imagem não é capaz de passar um conceito, pois
a linguagem conceitual não é imagética", defende Carvalho.
Os baixos índices de habilidades de leitura e escrita dos estudantes latino-americanos são apontados por outro intelectual, o educador colombiano Bernardo Toro, como um dos grande empecilhos para que as escolas utilizem os processos de leitura crítica e alfabetização para a mídia.
Os baixos índices de habilidades de leitura e escrita dos estudantes latino-americanos são apontados por outro intelectual, o educador colombiano Bernardo Toro, como um dos grande empecilhos para que as escolas utilizem os processos de leitura crítica e alfabetização para a mídia.
"A
compreensão e a análise crítica dos meios de comunicação de massa são dos
aprendizados mais necessários para se poder participar produtivamente da
sociedade presente e futura. Lograr o domínio dessas novas gramáticas
tecnológicas implica primeiro dominar as competências de leitura e
escrita", diz Toro. Para o colombiano, não há dilema entre escola e meios
de massa. A questão é a definição de um caminho ético de desenvolvimento
sustentável compartilhado, que dê sentido ao saber que temos acumulado.
Esperar
que os meios de comunicação espontaneamente passem a transmitir outros valores
parece não ser suficiente. Cobrar do poder público o papel de proteger a escola
do impacto da mídia esbarra na dificuldade que se encontra em classificar e
estabelecer limites para os conteúdos, uma vez que medidas desse tipo tendem a
ser vistas como mecanismos de censura. A televisão deverá, portanto, continuar
sendo o que é, mas há quem entenda que não faria tanta diferença se ela tivesse
outro caráter. "Eu não quero uma TV educativa, eu quero educar meus
filhos", defende Edilson Cazeloto, mestre em Comunicação e Semiótica pela
PUC e professor do curso de jornalismo do Mackenzie. No fim das contas,
qualquer que seja a TV, pais e educadores terão sempre o desafio de não
permitir que ela seja a grande formadora dos valores da sociedade. "O
problema é deixar a TV grassar solta; a mídia tem um impacto negativo porque
não é discutida", adverte Cazeloto. O educador precisaria assumir o papel
de mediador entre a mídia e o indivíduo, levando o aluno a estabelecer uma
relação crítica com os meios de comunicação, diz, corroborando Fonseca Carvalho.
Ser multimídia
As
experiências dos que trabalham com alfabetização para a mídia demonstram que
apenas o discurso do professor não basta para despertar o senso crítico do
estudante. Por mais analítico e atraente que seja, ele também é impotente
diante da sedução dos meios de comunicação. "A escola quer ensinar à
criança como se comportar perante a mídia. Visto entre esses padrões - o da
escola e o da mídia - o aluno prefere o da mídia e acaba não absorvendo a
crítica que a escola quer promover. A educomunicação diz que a única solução
possível é trazer a mídia para a escola, tornando-a um articulador do
discurso", aponta Ismar de Oliveira Soares.
Em
outras palavras, mais do que discutir mídia e interpretar os procedimentos e
intenções dos veículos de comunicação, é preciso colocar o estudante no papel
de protagonista, de agente do discurso. Não para que ele aprenda tecnicamente
como se faz comunicação, mas para que compreenda o potencial que cada indivíduo
tem de se expressar. "O importante é que o aluno aprenda a ser multimídia,
e não a operar multimídia", sintetiza Cazeloto.
Isso
significa que um bom trabalho de educomunicação pode ser desenvolvido mesmo com
escassez de recursos e precariedade técnica. Muitos dos projetos ligados à Rede
CEP e outros tantos espalhados pelo país são realmente feitos nessas condições.
O governo federal, contudo, ainda tende a confundir incentivo à alfabetização
para a mídia com investimento em tecnologia. Acha que é só colocar computador nas
escolas, que a educação começa a acontecer.
Esse
pensamento é fruto da crença na capacidade que o surgimento de novas
tecnologias tem de democratizar o acesso à informação e aos meios de se fazer
comunicação. Crença que Eugênio Bucci e Edilson Cazeloto definem numa só e
mesma palavra: fetiche. Segundo Bucci, o fenômeno repete-se toda vez que uma
nova tecnologia se impõe à sociedade. A panacéia da vez é a internet, como já
foram no passado o rádio e a televisão. Cazeloto vê nesse fascínio pela
tecnologia um grande perigo. Como todas as mídias hoje em dia convergem para a
plataforma digital, é como se todos os ovos estivessem sendo colocados numa
cesta só. "Democracia tem a ver com pluralidade", aponta.
Olhar ao redor
Um
dos princípios que norteiam o trabalho dos que promovem a educomunicação no
Brasil é baseado na premissa de que toda comunicação é uma relação: fazer a
escola olhar para fora de si e levar em consideração a realidade que existe ao
seu redor. Não a grande realidade, distante e abstrata, mas a vizinha,
concreta, do cotidiano, da comunidade local. É nesse sentido que pouco importa
com que recursos a comunicação é feita, e sim que benefícios ela gera.
Alexandre Le Voci Sayad entende que, se o colégio não tem recursos para produzir
nada, pode desenvolver grandes projetos educativos a partir de idéias simples.
"Uma escola firmar parceria com o jornal do seu bairro para produzir uma
página de conteúdo, por exemplo, é algo que não envolve custo nenhum para
ninguém", sugere.
Além
da simplicidade, da capacidade de integrar-se com a comunidade em que está
inserida em vez de aventurar-se em projetos megalomaníacos nos quais muitas
vezes a tecnologia é usada à-toa, a experiência das ONGs aponta outros pontos
que devem ser levados em consideração na hora de estruturar um projeto com
mídia na escola.
O
mais importante deles é o interesse dos alunos. Sayad aponta que projetos
impostos pela direção ou pelos professores sem consulta às vontades dos
estudantes tendem a não durar mais de dois meses. Os jovens os abandonam no
meio. Um caminho freqüentemente adotado e que costuma obter um bom índice de
resposta é o de formar comitês conjuntos, com participação de alunos e docentes
e acordos estabelecidos.
Outra
boa iniciativa é permitir que nas oficinas de comunicação os alunos convivam
com diferentes profissionais do setor: jornalistas, publicitários, fotógrafos,
artistas gráficos. Com isso, fora o ganho cultural que a diversidade
naturalmente proporciona, o jovem sente-se mais motivado, pois se percebe
envolvido numa atividade profissional de verdade e não num mero trabalho
escolar.
Por
outro lado, é preciso que diretores e professores não tenham ilusões em relação
à educomunicação. Ela mexe com aquilo que o espanhol Jesús Martín-Barbero, um
dos mais conceituados teóricos da comunicação, chama de "ecossistema
comunicativo", de modo que as relações dentro do ambiente escolar sofrem
modificações. O interesse pelo trabalho com mídia pode, por exemplo, vir
acompanhado de um crescente desinteresse pelas disciplinas da grade curricular
ou pela maneira como são ensinadas. Ao expressar-se pela mídia, o jovem
torna-se mais crítico e percebe que tem o poder de se fazer ouvir no colégio.
Os professores precisam estar preparados para responder com diálogo e um ensino
mais envolvente.
Também não adianta exigir desse tipo de trabalho aquilo que
ele sozinho não pode fazer. "Os projetos em educomunicação não salvam a
educação brasileira. A escola tem de mudar em vários aspectos
simultaneamente", diz Sayad. A participação dos alunos em produção de
mídia é somente uma parte disso.
SolBatt agradece sua visita!
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